Mediunidade: a viagem solitária
Por vezes romantizada ou incompreendida, a realidade da mediunidade é marcada por momentos de maior intensidade energética numa permanente e estreita conexão com aquilo que os nossos olhos, em regime diário, não conseguem alcançar facilmente.
Um processo que acarreta uma enorme responsabilidade e que muda para sempre a forma como percebemos o mundo. Para mim mudou, em definitivo.
Não acredito que tenha sido um presente que me tenha sido oferecido por “algo superior”. Foi um catalisador que me levou a crescer de uma outra forma, a aprender e questionar. A aceitação foi o primeiro passo. Muitas vezes, sobretudo durante a adolescência, demonstrei receio de certas experiências, do impacto que estas poderiam ter no meu percurso a longo prazo. Aqui, a ansiedade a cumprimentar-me. Prazer! 😊
Porém, negar a nossa natureza espiritual apenas aumenta o conflito interno. Eu procurei não negar essa natureza. Por oposição, resolvi aceitar as minhas capacidades como parte de integrante de quem sou, e essa aceitação é essencial para que possamos integrar a mediunidade na nossa vida sem nos sentirmos ameaçados ou dominados por ela.
“Uma vez que sabes, nunca mais podes desconhecer.”
Ser médium ou sensitivo é, antes de mais, estar profundamente ligado ao mundo energético e espiritual. Em boa verdade, todos somos e nascemos médiuns. Contudo, quem trabalha com energia numa base diária, muitas vezes, sente de forma mais intensa e visceral as transições da vida para a morte. E não é apenas por “saber”. É sentir, estar presente e testemunhar cada passo do processo. A diminuição do fluxo energético de um ser, sentir a essência gradualmente a partir, e mesmo assim manter toda força possível para estar ali, de coração aberto, durante aquele momento de transição. É, ao mesmo tempo, um peso e um privilégio.
A importância da tribo e do suporte emocional
Neste percurso, algo que se torna evidente é que nem todos podem compreender ou acompanhar esta viagem que se torna muito solitária. A mediunidade, frequentemente, acaba por criar uma distância entre nós e algumas pessoas que fizeram parte da nossa vida “antes”. Vamos imaginar um livro dividido em apenas dois capítulos, em que o primeiro corresponde ao período pré-despertar e o segundo aliado ao pós-despertar espiritual.
Este crescimento individual exige novas conexões, novos espaços e, sobretudo, novas conversas. Encontrar a nossa “tribo”, aqueles que podem partilhar, entender e suportar o peso destas vivências, torna-se essencial.
Ter uma rede de apoio formada por outros profissionais, estudantes ou pessoas que compreendem e respeitam o mundo energético é uma das formas mais saudáveis de lidar com o lado exigente da mediunidade. Aqui, não há necessidade de explicações excessivas: todos entendem o peso e a leveza destas capacidades.
Os diferentes “Clairs”: tipologia de percepção
A mediunidade manifesta-se de formas totalmente distintas em cada pessoa. Entre as capacidades mais comuns estão os “Clairs” – diferentes tipos de percepções subtis que nos conectam ao outro lado do véu. No meu caso individual sempre tive, desde cedo, uma enorme habilidade em sentir as energias, emoções e até mesmo sensações físicas do outro lado (Clairsentience). Para muitos médiuns, é a principal forma de ligação. Sentes uma presença, uma emoção que não é tua, ou mesmo a energia de um lugar. Quem desenvolve este clair tem uma sensibilidade acentuada, muitas vezes captando detalhes que escapam aos outros.
A capacidade do conhecimento intuitivo também esteve sempre presente na minha vida de diversas formas. A informação simplesmente aparece, como se de uma certeza absoluta se tratasse, sem necessidade de justificações. É como se soubéssemos algo sem entender de onde vem (Claircognizance) aliada à capacidade de ouvir algumas mensagens que nos chegam como sons, palavras ou mensagens. Os chamados “downloads” auditivos (Clairaudience).
Apesar de ter sido diminuindo gradualmente com o passar do tempo ainda demonstro alguma percepção visual (Clairvoyance). As visões não são sempre imagens completas, mas sim fragmentos soltos mas repletos de significado, muitas vezes misturados com sensações e informação contextual (o clima, os sentimentos, a atmosfera do momento).
O processo de desenvolvimento
Eu continuo a não conseguir compactuar com a premissa de que a mediunidade, em si, é um “dom”. Vejo-a sim como responsabilidade e um modo de vida. Um caminho que transforma quem somos e como vemos o mundo, exigindo sacrifício, mas também oferecendo um profundo sentido de conexão e propósito. Ainda assim, é como músculo que necessita de treino. Desenvolver os chamados “clairs” requer prática em ambientes controlados, por se tratar de um trabalho energético extremamente intenso mediante as situações.
É crucial cuidar do corpo, da mente e da alma. Práticas como meditação, banhos de limpeza energética e períodos de descanso são fundamentais.
Um trabalho exigente mas profundamente recompensador, que nos ensina a maior lição que deveríamos aprender: nunca estamos sozinhos.