As horas morrerão lentas

As horas morrerão lentas num grito mudo sem terra nem chão. Como se o âmago vazio dos caudais fosse o de quem os visse passar numa espécie de prece silenciosa. E se, entretanto, adormeceres, serei tão leve que nunca te hei de pesar na memória.

Na sombra da amálgama do mar raso, permanecerei eu levitando já sem pulsação, à medida que a mutação dos contornos ferrugentos se revê na profusão das estrelas que se dizem penduradas por uma linha sem cor, no para além de exorcismos oblíquos e de curvos cansaços.

Isocronicamente, espero pelo enlace de uma magia azul, melancolia que a memória fez questão de cativar. Não há dor que deveria arder no termo do dia. Somente a promessa perpetuada de um querer tão só a suposição da ternura funda de mar que me dói por nem eu nem tu sabermos quando virá.

Anisocronia. Volto-me. Discreta e concreta. E voltarmo-nos é a solução para permanecermos ilesos do ataque furtuito que nos aguarda. É recusarmos a universalidade, a imposição da definição, em vão, procurada pela primeira forma da interrogação.

Mas não encontro nem um voo de pardal nem um beijo de jasmim na procura de uma luz sem feixes. E sim os teus dedos de âncora em amarra a segurarem-me ao cais da tua desordem.

Tomo-a e logo sossega a tempestade que me naufragava em vagas próximas à vertigem do ser inerte.

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