Disse o teu nome

Quando de tudo, da noite, do choro, mesmo da morte, espantei o absurdo e até encontrei uso para os dias que um a um de mim te perderam, disse o teu nome.

À recusa do dia e da noite na sua definição demasiado vertical. Demasiado precisa. Porque a noite, na tua ausência, é tão absurda como a palavra “adeus” que me recuso pronunciar nesta fortaleza volante.

É da libertação do medo que me tombam as primeiras gotas de chuva, ao abrigo da cegueira dos dias, como se o coração se calasse somente por uns minutos. De olhos baços postos nos gigantes que beijam os céus visto-lhes o betão e a taipa. Escondendo-me ausente nas bermas desbotadas de mundo à mercê da alma desarrumada.

Adivinho‑te a doçura no olhar fértil, mas neutro, face aos ecos velados dos dias que pela montanha vão escorrendo como cera líquida, de braço dado com o o dilúvio. E profetizo-te o pulsar das lembranças poeticamente dissolvidas no constante pesar do exílio que sempre te algema por baixo da pele.

Nesta firmada promessa de um querer, abro hoje as minhas mãos das tuas geladas, como dois barcos ausentes no cais, procurando-te em marés alheias, numa infinidade de luz, à espera de uma manhã prematura e recebendo‑a de coração estendido face ao prelúdio das horas que morrerão lentas. De lágrimas descalças fugindo dos olhos. Horas essas por vir que nunca serão totalmente nossas.

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