O fulgor do nosso silêncio está morto

O fulgor do nosso silêncio está morto. Sempre esteve morto.

Opaco.

As sombras alongadas do entardecer mesclam-se agora com as almas inquietas, sedentas de uma vida contida que flui no limite da outra margem, ela própria oculta na alma da metrópole acesa, com dedos de cimento, crepitando sobre si mesma.

O que ainda nos retém é o calor do nosso lugar a Norte, para lá dos antigos recantos sagrados, nos quais ainda ecoam os rituais do passado no suspiro matinal do vento por entre as árvores centenárias.

Um calor constante no centro que se torna banal.

Algumas vidas são assim.

Os passos arrastados seguem a dança da existência, enquanto a cidade murmura a saudade que nos permeia os dias como a mais nostálgica das canções que ficaram por concluir.

Somos instantes fugazes e o fulgor do nosso silêncio está morto.

Ele, que tantas vezes marcou encontro no centro de uma ponte passível de unir todas sombras e luzes que habitam em nós.

E assim, a meio termo, num único ponto de transição, clamamos uma súbita mudança de direcção para onde tudo flui e se transforma. Reter a cidade que a memória afasta lentamente é como atentar o murmúrio de uma última prece às águas do rio.

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