Onde me quis para sempre

Para ti

Já não há espaço para culpar o destino ou escrever sobre a tristeza.

Sinto o frio na pele mas a dor já não me consome, por ter virado a ilusão que se evapora no fio da escrita ondulada que traço com as mãos, que passaram a tremer, pela distância do teu toque, nas noites em que gritei por ti.

Em mim revolve-se a lavanda que cresce na terra como a tua memória que floresce em mim.

Nas sombras líquidas do teu rosto onde a luz se despenha num batimento errático, há a beleza da combustão sagrada que escorrega pelas fendas dos nossos mundos em colisão permanente.

Que dissolve o peso das memórias não ditas, o gesto interrompido no silêncio curvo dos teus olhos.

No movimento das tuas pálpebras, cortinas translúcidas de um sonho a dois, vislumbro-lhe ainda a promessa do teu amor, tão escondido e claro, a fluir como gaivotas ao entardecer em direcção ao mar, onde as ondas cercam quem está só, como eu, sem o teu abraço onde me quis para sempre no intervalo das marés.

Mapa de sangue, luz e relâmpagos sobre o molhe, onde a nossa história ainda se escreve num jogo de duas mãos com partículas selvagens, feitas de manhãs febris que respiram o aroma da nossa terra em flor.

Observo-te, ainda tão puro no teu sossego, onde permaneces ritmo do caos indizível transformado em canção composta no conforto tremido da tempestade que pulsa num canto onde tudo nos falta.

Para além das pombas perdidas por entre varandas e escadas, do perfume do orvalho, num lugar onde o silêncio é o substantivo mais puro, onde o amor que sempre fomos passará a ser luz, no lento respirar da terra.

De sempre. Para sempre.

Gosto tanto de ti…

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