Falhar? Acontece.

Há alguns dias senti-me, pela primeira vez, bastante desiludida comigo mesma.

Foi através de uma plataforma onde, há muito tempo, ofereço leituras intuitivas anonimamente, que me vi abordada por alguém que me perguntou se eu estaria disponível para realizar uma leitura a partir de uma fotografia. A pessoa retratada tinha partido há poucos meses, de causas naturais. Dediquei algum tempo a analisar a fotografia e a captar a respectiva essência. Quando nos pedem uma leitura, algo que oferecemos de bom grado sempre que o tempo o permite, é frequente existir uma enorme urgência e um certo sentido de obrigação que nos é imposto, o que acaba por aumentar a pressão que colocamos sobre nós mesmos. Ainda assim, optei por prosseguir.

Consegui rapidamente aceder a traços marcantes da personalidade daquela alma, aos seus hobbies e à sua profissão, bem como à forma como partiu deste plano, ao que deixou concluído, ao que ficou por concluir e à sua ligação à família. A energia que me transmitia era a de uma avó (extremamente maternal e cuidadora), a de alguém com o amplo conhecimento de quem já esteve muitas vezes neste plano. Registei mentalmente que se tratava da avó da utilizadora. E foi aí que cometi o meu erro.

Antes de avançar com mais informação, e para receber a validação de que estava já estabelecido o contacto com a alma de interesse da utilizadora, partilhei com ela estas primeiras notas mentais. Validou tudo mas rapidamente negou o parentesco: não se tratava da sua avó, mas sim de uma tia bastante afastada, que a utilizadora mal conhecia, com quem havia um vínculo muito ténue. Acredito que a desilusão foi clara e imediata. E a conexão ficou por ali, da pior forma possível.

Embora todos nós tenhamos antepassados no plano espiritual e energias que nos rodeiam, se não há um vínculo ou intenção clara, a leitura pode tornar-se dúbia e menos significativa. Cada ferramenta espiritual funciona melhor quando há um foco e uma abertura para receber a mensagem. Não havia.

O processo é fácil? Longe disso

Neste universo tão complexo das leituras mediúnicas e afins é essencial compreendermos como funciona a comunicação com o mundo espiritual e respeitarmos o trabalho de quem dedica grande parte do seu tempo a esta actividade. Não é o meu caso nem nunca será, de acordo com os objectivos que estabeleci para a minha vida. É uma actividade paralela ao meu trabalho e aos meus outros projectos profissionais. Contudo, há uma grande fatia que se dedica a esta prática diariamente, várias horas por dia. São processos profundamente exigentes, tanto a nível energético como emocional e espiritual.

Há o cansaço intenso depois de uma sessão, que acontece porque o contacto com o outro plano requer um grande esforço vibracional, daí ser necessário um ajuste da frequência energética. Há a alteração do estado de consciência, com o aumento da sensibilidade onde a percepção se expande para captar informações que não são acessíveis pelos sentidos comuns. Há todo um desgaste emocional pela captação das emoções das almas com quem é estabelecido o contacto (ex. se a comunicação envolve uma alma que partiu de forma trágica ou deixou assuntos inacabados, o médium como canal pode sentir essa carga emocional como se fosse sua).

E há o impacto da energia de quem recorre às leituras. Isto porque muitas destas pessoas se encontram a viver processos de luto (alguns bastante difíceis), dor ou angústia, e a sua energia pode ser extremamente densa e pesada. Portanto, é fundamental que haja reciprocidade e respeito pela energia e tempo, de ambas as partes envolvidas.

A importância do respeito e do feedback

Quando um médium ou leitor intuitivo se presta à oferta de uma leitura de coração aberto, especialmente de forma gratuita, é importante que a pessoa que a recebe responda e dê o seu feedback. Se um leitor investiu parte do seu tempo para fornecer informações e insights, o mínimo que se espera é um retorno para confirmar ou esclarecer o que foi dito. Responder e demonstrar gratidão é uma simples forma de respeitar o trabalho e a dedicação destes profissionais. Por oposição, ignorar ou rebaixar quem está, somente, a tentar ajudar é desrespeitoso e desmotivador.

Sejamos realistas de uma vez por todas: as faculdades mediúnicas são inerentes e todos os seres humanos, já nascemos com elas. Apenas temos livre arbítrio para decidir se, ao longo da nossa vida, as desenvolvemos de forma mais aprofundada ou não. A comunicação com “o outro lado” não se processa como, habitualmente, vemos nos filmes ou em alguns programas de televisão. Apesar de ser possível, sim, não é muito habitual vermos figuras físicas totalmente nítidas nem conversarmos directamente com as almas que partiram como se de um diálogo normal se tratasse. A experiência, em si, assemelha-se mais um sonho ou uma visão através de um vidro fosco, onde os sinais são puramente simbólicos e subjetivos. Apesar de cada caso ser um caso, naturalmente. O mesmo acontece com leituras de tarot, de oráculo e de pêndulo, que trabalham com mensagens simbólicas e energéticas, exigindo interpretação e abertura por parte do consulente.

A comunicação com o outro lado não é como se pensa

Um exemplo valioso está relacionado com os nomes. O que responder quando nos pedem de imediato um nome para iniciarmos o processo de validação de contacto? No meu caso, tenho imensa dificuldade com nomes. E digo-o da forma mais humilde possível. Mas vejamos, chega-nos um nome como “Karl" e a pessoa que partiu tem o nome “Carlos”. Se, porventura, o nosso interlocutor não conhecer ou refutar de imediato a sugestão, é um sinal de que não está a entender como a informação poderá ser transmitida.

Da mesma forma, se dissermos que vislumbramos alguns conflitos emocionais, através das leituras mediúnicas com recurso a cartas e pêndulo, e a pessoa nega prontamente sem nunca reflectir sobre a sua própria vida, pode estar a perder informações valiosas que poderiam ser melhor compreendidas se estivesse, por outro lado, com uma mente aberta.

É perfeitamente compreensível que algumas pessoas se aproximem destes processos de comunicação com o mundo espiritual com uma postura céptica, mas é importante haver disponibilidade mental e emocional para tal. Esperar uma “mensagem de texto" do outro lado ou uma prova absolutamente exacta e objectiva pode levar à frustração, quer de quem procura, quer de quem pratica. Se um médium não traz exatamente o que se espera ouvir, isso não quer significar que a leitura não seja genuína.

É importante referir que nem todas as pessoas são desrespeitosas ou ingratas, e felizmente muitas mostram apreciação pelo trabalho espiritual que é desenvolvido. No entanto, é essencial trazer consciência para estas questões e promover uma interacção mais respeitosa e harmoniosa entre quem procura leituras e quem as oferece.

Sim, por vezes, sinto muito medo de falhar. E de falhar consecutivamente.

E o medo é uma barreira poderosa que se pode manifestar de várias formas: medo do fracasso, medo do julgamento ou até mesmo medo do desconhecido. Essa sensação pode paralisar-me e impedir-me de abraçar plenamente as minhas capacidades. Para superá-lo, é essencial reconhecê-lo e compreender que faz parte natural do meu crescimento. O conhecimento também desempenha um papel fundamental aqui, porque quanto mais aprendermos sobre quem somos, menos intimidantes estes processos se tornam.

Além disso, rodearmo-nos de uma comunidade de apoio permite-nos partilhar receios e aprender com aqueles que já enfrentaram desafios semelhantes.

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